terça-feira, 28 de abril de 2015

Uma história pela metade [Luciano Martins Costa]


Os 50 anos da TV Globo foram lembrados ao longo da semana que passou e celebrados no domingo (26/4), com uma festa para centenas de funcionários no Rio de Janeiro. As inserções de um quadro especial no Jornal Nacional, comandado pelo apresentador e editor William Bonner, serviram para apresentar em doses diárias um resumo da história da emissora, com destaque para alguns episódios controversos em que foi protagonista.
Na terça-feira (21/4), por exemplo, Bonner personificou o mea-culpa da Globo por haver tentado ocultar, em 1984, o comício que marcou, em São Paulo, a campanha pelas eleições diretas para presidente da República. A reportagem sobre a manifestação foi aberta, na ocasião, por Marcos Hummel, então âncora do Jornal Nacional, com o seguinte texto: “Um dia de festa em São Paulo. A cidade comemora seus 430 anos com mais de 500 solenidades. A maior foi um comício na Praça da Sé”. Quem estava lá sabia que aquele era um protesto contra a ditadura, pelas eleições diretas, realizado sob ameaça das forças de segurança – e não uma festa de aniversário.
No dia seguinte, foi a vez de tratar da manipulação que ajudou a eleger Fernando Collor de Mello na disputa contra Lula da Silva, na eleição presidencial de 1989. Na ocasião, a Globo concedeu um minuto e meio a mais para Collor, com um texto tendencioso no qual escondeu os melhores argumentos de Lula no debate da noite anterior e exibiu seu oponente como um estadista. Na revisão histórica da semana passada, tudo não passou de um erro de edição, e um compungido Bonner lamentou a “falta de equilíbrio” daquela cobertura.
Mas, fora do quadro mágico da tela, a verdade é que a história da emissora está recheada de atos de má-fé e manipulações.
Embora se possa dizer que a mais poderosa rede brasileira de televisão se tornou um pouco mais sutil em sua interpretação da realidade nacional, não há como fugir ao fato de que segue produzindo diariamente exemplos de um jornalismo tendencioso que ancora o conteúdo claramente partidário dos outros grandes veículos de comunicação.
O socorro do BNDES
Como o bicheiro que precisa comprar um título de comendador quando chega a maturidade, a Globo tem necessidade de corrigir, eventualmente, sua trajetória, para que a mão da História lhe seja leve. No entanto, essa espécie de autocrítica conduzida em tom de convescote ao longo da semana não tem peso e seriedade suficientes para um registro nos arquivos do jornalismo, digamos, mais sério.
Essa função foi cumprida, na sexta-feira (24/4), em uma longa entrevista concedida ao jornal Valor Econômico (ver aqui) pelos principais acionistas do Grupo Globo, os irmãos Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto Marinho, a uma dupla insuspeita de jornalistas, Matías Molina e Vera Brandimarte.
Além disso, o jornal que pertence ao Grupo Globo em parceria com o Grupo Folha também publica uma reportagem sobre bastidores da poderosa organização, com destaque para o processo de reestruturação financeira que evitou sua falência no começo deste século.
Matías Molina, veterano jornalista que ajudou a formar alguns dos melhores repórteres brasileiros de Economia nas últimas décadas, é autor do livro Os Melhores Jornais do Mundo e lançou recentemente o primeiro volume da trilogia História dos Jornais no Brasil. É com esse currículo que ele conduz a retrospectiva dos 50 anos da Globo no Valor.
Mas a leitura da entrevista decepciona em alguns aspectos: a história controvertida da maior potência da imprensa latino americana fica diluída em meio a uma conversa amena à qual faltou rigor crítico. As perguntas servem como alavancas para os irmãos Marinho amenizarem o papel decisivo da empresa em episódios polêmicos da história nacional.
Um de seus momentos mais importantes – o processo de recuperação financeira ocorrido entre 2002 e 2006 – passa quase em branco. Questionado sobre aquele período, quando a empresa teve que vender parte da rede, livrou-se do controle das operadoras Sky e Net e foi socorrida pelo BNDES, os entrevistadores se satisfazem com a resposta de Roberto Irineu Marinho, de que a situação foi resolvida “sem recursos do BNDES ou de bancos estatais”.
O socorro do BNDES ao Grupo Globo foi amplamente noticiado na época (ver aqui) e motivou até mesmo um pedido de audiência pública no Senado Federal (ver aqui) e até hoje segue sendo uma das chaves para se entender a relação entre a empresa e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em seus dois mandatos.
Quem sabe nos próximos 50 anos essa história seja contada.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Por causa da plebe votarei em Dilma


Sim, há tempos sofro de pessimismo compulsivo e desilusão crônica. Mais: desde o início da campanha eleitoral deste ano, assumo, convicto, que sou também um ressentido incorrigível quanto aos caminhos e atalhos escolhidos pelo partido dos trabalhadores nos últimos doze anos. Reconheço, com ressalvas, as mudanças ocorridas na vida econômica dos menos favorecidos e aponto dedo em riste, irritado, triste e frustrado, todas as falhas: da inexistência de um plano de educação real e eficiente à demasiada importância que se dá aos programas assistenciais e à sempre nefasta ideia de governabilidade sem critérios – subir em palanque com Fernando Collor é ainda mais vexatório do que soltar os cabelos e fazer campanha para Aécio. Ainda assim, confesso: por causa da plebe votarei em Dilma.

E a motivação para abrir mão do convicto voto nulo que milito nas ocasiões eleitorais, desde que me decepcionei com os primeiros quatro anos de Lula no poder, não tem traço algum no sentido de validar bolsa-família, cotas, Copa do Mundo ou programas sociais colocados em prática somente depois das manifestações de junho do ano passado. A plebe (muito além da dimensão socioeconômica, tornou-se um estado de espírito) me força, me obriga a votar em Dilma. Passarei por tal humilhação porque essa gente – mal educada (no sentido de sua formação intelectual) e dada a cabrestos nos moldes coloniais –, através do voto, elegeu a Câmara mais conservadora desde o golpe de 1964, de acordo com levantamento do Diap, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar.

Em números, o susto é maior e melhor explicitado: são 80 evangélicos; 70 ruralistas; e 20 com o pé nas forças armadas da pior estirpe de nosso país. Se entramos em detalhes, fica ainda mais transparente e estarrecedor: em São Paulo, os três mais votados foram Celso Russomano (herói das massas consumidoras), Tiririca e Marco Feliciano; no Rio de Janeiro, a contradição comum de analfabetos políticos se fez presente quando reelegeram Bolsonaro e Jean Willys. Com Dilma, mantém-se a tentativa de equilibrar os interesses e eles, os caretas, permanecem fortes. Com Aécio no poder, decerto, os caretas ganham poder.

Graças à festejada ignorância política de nossa plebe, o desequilíbrio de forças continuará gerando, obviamente, males que nem mesmo futuros junhos de 2013 darão jeito. De forma precisa, 74% da nossa legislação terá, nos próximos quatro anos, as inevitáveis marcas: a manutenção das mortes no campo, que nunca são notícia; a intransigência, pautada em mistificações pentecostais, para debater maconha e aborto como questões de saúde pública; o retrocesso que começa no desprezo a mudanças no código penal, passando pela negligência desavergonhada com as nossas escolas públicas, culminando na defesa da maioridade penal como forma de resolver o problema da criminalidade no país.

Creio que o ideal seria oxigenar a democracia, como disse Cristovam Buarque. Mas, o evidente nivelamento por baixo das opções que se apresentaram também me faz votar na Dilma: Aécio é o porta-voz de uma direita envelhecida e oligárquica (seu vice é o criminoso Aloysio Nunes e Marin, atual dono da CBF, seu principal cabo eleitoral); Eymael, Fidelix, Pastor Everaldo e o cômico e cínico Eduardo Jorge na incessante busca por cargos (típica ação de partidos nanicos); Luciana Genro fazendo crer coerência até no que é impossível democraticamente (por exemplo, regulamentar o uso de drogas deve passar, antes, pelo Congresso, qualquer ação presidencial, sem esse trâmite, soará ditadura); quando ainda havia Eduardo Campos, admito que via, com muita cautela, alguma perspectiva de algo novo, mas, aí, veio a Marina Silva; e os esquerdoides, aqueles que andam roucos de tanto ladrar, não merecem comentário algum.  

Sim, serei obrigado a votar e Dilma, virando a cara e tomado de vergonha por ser compatriota de uma gente que elegeu senador um sujeito que sofreu justo linchamento moral, via impeachment, por ser cidadão de um país que mitifica o outrora operário que, quando no mais alto posto de uma república, no Jornal Nacional, declarou, sem indignação e cínico como um tirano, que caixa dois, no Brasil, é prática comum dos partidos políticos.

Assim, desistam, petistas de ocasião: não farei uso de avatar da Dilma em rede social, nem compartilharei postagens com dados mais quantitativos do que qualitativos sobre as ações do governo para me contrapor a Aécio. Como modo de não ser confundido com essa esquerda festiva, pretendo mesmo evitar a cor vermelha (ou algo que se aproxime desta) nas minhas roupas no dia da eleição.


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Quando opinião vira monumento [Cazzo Fontoura]


Tal qual o João Batista, que obsessivamente avisava da chegada do messias, Nelson Rodrigues – este, sim, uma assumida flor de obsessão – passou anos a dizer e enfatizou em muitas de suas crônicas o que, até então, ninguém percebia: a ascensão dos idiotas no mundo. João, subversivo, batizava as pessoas, preparando-as para a vinda do cristo, a contragosto da igreja judaica, que o considerava apenas mais um louco na plebe. Nelson, o mais doce dos nossos reacionários, dizia o óbvio, embora, como ele mesmo proclamava, “somente os profetas enxergam o óbvio”. 

Já em sua época, este emblemático torcedor do Fluminense observava nas entrelinhas o encaminhamento da humanidade: o jornalismo superficial e pouco criativo, a brutalidade das relações amorosas, a vibração das massas diante de um idiota no palanque. Estas três observações do Nelson Rodrigues estão alicerçadas, hoje, no mundo virtual: noticiário, rápido e rasteiro, que desconhece profundidade; lugar-comum ora para o sexo idealizado ora para a grosseria deste mesmo tipo de relação; e espaço convulsivamente democrático para o registro eternizado das opiniões. A internet é o mais moderno e eficiente palanque da idiotice.  

Mas não devemos esquecer que o que chamamos de mundo virtual é mero reflexo do que somos bem de perto. É nas redes sociais que as mais nefastas opiniões ganham contornos de monumento. Isso porque uma vez registrada nossa sentença, a consideramos algo a ser lido, contemplado. E porque está registrada, os que a leem dão muitas vezes demasiada importância, gerando um debate planetário sobre coisas que, noutros tempos, falávamos ao pé do ouvido e, se muito, chegavam ao conhecimento de duas ou três pessoas. 

Dentro daquela máxima que diz: “Fazer um filho, plantar uma árvore, escrever um livro”, o livro aqui já começa a ser substituído pelos registros nas redes sociais. A diferença é que a brochura – que passa pelo demorado processo de edição, produção, ajustes de colagem –, quando pronta, tende a eternizar o conteúdo que lhe inserimos. Mas, num mundo onde corremos não se sabe pra quê, mais barato, mais eficiente e causa muito impacto nosso medíocre registro num mural de facebook, que, por causa da comunhão idiota que ali fortalecemos, torna-se constante estopim para a produção em série da idiotice, numa desenfreada disputa no intuito de alcançar a estupidez em sua essência. 

Vejamos o caso Micheline Borges. A jornalista que opinou sobre a aparência das médicas cubanas que acabaram de chegar ao Brasil. Independente de considerar o que ela fez questão de registrar uma grande idiotice, é ainda mais agravante perceber que, com essa arma que é o registro imediato e de rápida comunicabilidade, perdemos o pudor. De um cotidiano banho gelado em dia caloroso ao registro fotográfico de uma poça d’água, tudo, absolutamente tudo vira notícia, ganha o relevo de um monumento. 

A declaração explicitada da jornalista potiguar, caso não tivesse sido registrada, em nada mudaria sua impressão, ela continuaria a ver nas profissionais cubanas a inadequada aparência de empregadas domésticas. Como um Boris Casoy no alto de sua arrogância, Micheline Borges desprezou a ineficiente confissão ao pé do ouvido, preferiu proferir sua verdade absoluta, que, via internet, só não chegará a Cuba, China e a alguns países do oriente médio. 

Com o registro monumental nos sentimos arrogantemente convictos do que, num lapso de segundos, consideramos válido registrar e, para nossa desgraça, só nos convencemos a voltar atrás no que escrevemos – se é que voltamos atrás – quando tal constrangimento pode vir a decrescer a possibilidade de status e dinheiro. Para que isso não ocorra, fazemos novos registros, de arrependimento ou de convicção menos consistente.   

Não há dúvida de que sempre tivemos opinião sobre todas as coisas. Até hoje nos utilizamos de instituições para moldar, a partir da nossa, a opinião de outras pessoas. Acontece que o registro virtual ratifica, como nunca antes na história deste planeta, o caráter paralisante de termos opiniões sobre todas as coisas. E assim ficamos cada vez mais distantes do que outro profeta veio nos dizer. Raul Seixas, se estivesse vivo e ainda metamorfose ambulante, seria banido de facebook, twitter e instagram. O palanque de idiotas o denunciaria por “não ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.


terça-feira, 20 de agosto de 2013

O vegetarianismo é uma grande bobagem [Cazzo Fontoura]



Ao contemplar uma exposição de carnes num mercadinho de bairro, cheguei à seguinte conclusão: o vegetarianismo é uma grande bobagem. Logo no primeiro instante em que me deparei com aquele varal de bichos mortos – esteticamente bem posicionados, suas cores distribuídas de maneira concisa, combinando com o ladrilho manchado da parede – me peguei surpreendido, constatando o que há algum tempo ouvi o poeta Affonso Romano de Sant’Anna dizer: “Não existe morte. O que existe é vida alimentando vida”. Sim, o sangue que ainda escorria de um volumoso pedaço de boi ali exposto me encheu de vida.

Discussões advindas de experimentações, conclusões científicas quanto aos benefícios ou males da dieta vegetariana são sempre válidas pelo simples fato de que jamais serão absolutamente conclusivas. Adeptos do capim e afins defendem que excluir animais do prato os protege de doenças cardiovasculares ou outras tantas originadas do excesso de gordura. Já os carnívoros convictos usam como principal argumento a ausência do ferro e da vitamina B12, essenciais para a formação das hemácias e da hemoglobina.

O que deve, de fato, ser desprezado é o cientista que defende a ingestão de carnes que tem lá seus compromissos com a inescrupulosa indústria alimentícia – em função de experimentações agressivas à saúde humana, como a inserção de composições químicas para um crescimento mais rápido dos frangos, fazendo-os prontos para o abate em curto espaço de tempo. Mas, fora o discurso contrário à utilização de macacos e ratos como cobaias de testes para curas de doenças em seres humanos – talvez estupradores fossem animais ideais para tal situação –, também costumo dar pouca valia aos defensores da alimentação vegetariana seja por motivações religiosas, seja porque ficam tristes ou indignados com a matança de animais transformada em aperitivo comum nos pratos nossos de cada dia.

Pois bem, afirmar que cachorro tem alma (e o que é mesmo alma?), que papagaios falam (não, eles não falam, apenas reproduzem o que dizemos), que elefantes sentem quando vão morrer, inevitavelmente, não passam de crenças. Há quem creia que um sujeito morreu num dia e três dias depois ressuscitou. Diante disso, acreditar que vinho faz bem ao coração chega a ser, no mínimo, plausível de se acreditar. Mas o que me leva a insultar, com a boca mastigando carne cheia de nervos, o sentimentalismo em prol de vacas, bois, galinhas, frangos, peixes e crustáceos é não entender muito bem em que vacas, bois, galinhas, frangos, peixes e crustáceos são melhores do que micróbios e bactérias sempre presentes entre nós, nas nossas peles, no beijo que nos damos, no aperto de dentro do ônibus, na comida e na bebida que ingerimos? Ou seja, tudo é vida.

Pregar o vegetarianismo como um jeito de se alimentar mais saudável, considerando ingerir carne como o grande vilão da vida humana, é menos estúpido do que inserir neste discurso o sofrimento do porco que será abatido ou a angústia do boi frente ao machado que lhe será cravado à cabeça. Sofrer e angustiar-se, até onde é possível comprovar, são sensações que ocorrem em homens e mulheres. Mas há quem defenda que cachorros sentem saudade. Certo mesmo é que tudo não passa de mera especulação, tão inconclusiva quanto a existência ou não de deus.

E por falar em sagrado, tanto a guerra que travamos com micróbios, bactérias, fungos e vírus quanto a rede abarrotada de peixes arrastada para a beira do mar são eventos essenciais à existência humana, equivalentes à ilusão de consagrarmo-nos sábios pelas nossas escolhas, desprezando, em absoluto, o possível fato de que, em alguma medida, não passamos de meros seres ignorantes de nossa ínfima contribuição no único e inevitável ciclo: nascer e morrer em favor da vida.  

segunda-feira, 18 de março de 2013

Habemus Nadam [Marcelo Carneiro da Cunha]



Estimados leitores, incrível, mas a igreja católica foi lá e fez de novo. Juntou 150 senhores idosos e escolheu um deles com a difícil missão de não mudar absolutamente nada e parecer que alguma coisa está acontecendo.

Como todos vocês eu me diverti vendo aquela queima de papeizinhos e a fumaça saindo da chaminé, até ela ficar menos cinza e então um outro senhor bem velhinho vir dizer Habemus Papam, e aparecer aquele senhor com jeito de quem aprecia muito um sonrisal pra acompanhar as carnes. O novo papa, Francisco. O novo papa acredita no poder da oração, senhores leitores. Oração.

 A igreja existe há dois mil anos e um troco, e por todo esse tempo ela vem praticando a oração, antes em latim, agora em vernáculo, e os resultados têm sido igualmente impressionantes. 

O mundo orava enquanto Roma era saqueada pelos bárbaros, e nenhum bárbaro, ao que se saiba, desistiu do projeto de invadir a capital da cristandade e se tornar um sujeito bonzinho ali e agora. Papas oravam enquanto tentavam invadir algum reino que estivesse incomodando, e a Itália permaneceu dividida até Garibaldi ir lá e fazer algo prático a respeito.

Todo mundo orava quando aparecia a peste, vinda do oriente selvagem, com uma enorme taxa de sucesso, uma vez que apenas seis pessoas em dez morriam. Aparentemente, somente as outras quatro sabiam a letra certa da reza salvadora, ou eram cristãos bons o bastante para merecerem escapar do trágico destino bubônico. Curiosamente, monastérios inteiros desapareceram junto, orando o tempo todo, ao que se imagina.

O mundo somente começou a mudar pelo século 16, estimados leitores, quando a parte da humanidade cansou de morrer de praticamente tudo e inventou a ciência. 
A igreja gostou tanto da ideia que queimou vários cientistas por ousarem fazer algo tão pouco divino quanto pensar. Uma boa oração resolvia tão bem, separando os bons dos maus, pra que virem agora com essa tolice igualadora, que salvaria a todos os vacinados da mesma maneira, inclusive os que praticassem outras religiões ou nenhuma?

No ocidente, por uma série de sortes, conseguimos impor o pensamento à fé, e a ciência à oração, e provavelmente é por isso que o nosso novo e estimado Papa sobrevive com apenas um pulmão. Se humanos não tivessem parado com bobagens e não tivessem ido lá fora inventar a assepsia, os instrumentos cirúrgicos, a anestesia e a medicina moderna, eu acredito que ele poderia ter orado em vão.

Por séculos oramos para todo o lado e a nossa média de vida não superou os quarenta anos de idade. No último século, sem nenhuma reza, pulamos para os oitenta anos em média, mulheres um pouco mais, homens um pouco menos. O que produziu essa revolução, uma vez que quantidade de vida é certamente um fator essencial na vida, não foi a oração, jamais seria, jamais será. E o novo papa acredita nela, apesar do pulmão.

Ele acredita nela por que ela é a única coisa que o sistema que ele representa tem a oferecer. Mágica, dragões, são jorges, lendas, crendices, e muita fumaça. Ele acredita nela porque se todo mundo resolver deixar de acreditar, babaus para a empresa dele, que fatura alguns 170 bilhões de dólares nos Estados Unidos, apenas. Ele acredita que mesmo que a humanidade não tenha sido beneficiada com dois mil anos de orações, a igreja certamente sobrevive, e muito bem, graças a ela. Portanto, oração funciona. E funciona. Para a igreja e seus empregados, por exemplo, funciona muito bem.

Curiosamente, no primeiro dia de trabalho do novo papa foi lançado o novo smartphone Android da Samsung. Daqui a pouco vem a versão nova do Iphone, da Apple. Curiosamente, no mesmo dia foi anunciado que já são ativados mais smartphones Android do que nascem bebês humanos, por dia. Deixando de lado o que não funciona, estamos apostando fortemente no que sabemos que funciona, parece. O Manuel Carneiro da Cunha, nos seus 16 meses de idade, passa o dedo sobre toda e qualquer superfície e espera que alguma coisa aconteça, o que não deixa de representar a nova fé humana do século 21.

Diferentemente da outra fé, aquela da reza pro Padinho Padi Ciço torcendo pela chuva que não vem, essa nova fé entrega, mesmo que nem sempre a entrega faça muito sentido ou tenha muita utilidade. Essa nova fé, ora vejam, é mais ou menos como a gente. Ela é isso mesmo porque foi, sem sombra de dúvidas, criada por nós e atua a nosso favor. Se somos um tanto erráticos, é por nossa conta.  A oração antiga era errática porque nunca sabíamos de que lado Deus estava, na guerra ou no futebol.

A nova oração está ao nosso lado, e por isso mesmo, mesmo quando não funciona, funciona. Sorte a nossa, azar do Francisco, que vai continuar naquele balcão dizendo que os gays são a causa de todo o mal e que o mundo é torto por falta, não excesso de Deus.  Quem sabe na hora em que o mundo inteiro for Android ou Apple, essa sua tese vai parecer cada vez mais distante, cada vez mais estranha, e finalmente, cada vez mais uma lembrança.

segunda-feira, 11 de março de 2013

A matança dos inocentes [José Ângelo Gaiarsa]



Jeová não deve ser muito amigo de crianças. Creio, mesmo, em uma secreta cumplicidade entre Ele e Herodes, aquele que mandou matar todas as crianças com menos de dois anos quando lhe disseram que havia nascido um Grande Rei que o superaria.

Na Psicanálise de Freud o "infantil" em nós é mal visto e mal falado, sinônimo de neurótico, regressivo, irracional, imaturo e mais palavrões similares.

Chamar de "criança" ou "infantil" a pessoas adultas é ofensa universal, significando, em paralelo com Freud, irresponsável, ignorante, bobo.

No entanto, a criança, tanto a de verdade como a que sobrevive em nós, é a semente do possível - é o que pode se desenvolver, a promessa de tudo o que ainda não somos, mas poderemos vir a ser.

O "adulto" ou a "Personalidade Madura" - como diz Giovanni Papini - é um "homem acabado"; acabado, isto é, sem futuro, sem novidade, é alguém que já deu tudo o que tinha a dar - algo esgotado.

A criança interior funciona em nós, como o broto terminal nas plantas - a zona de crescimento contínuo.

A criança interior é, pois, muito importante e convém cultivá-la e ouvi-la, por mais tolas que suas manifestações possam parecer (para os adultos!).

A criança - tanto a de verdade como a interior - é o futuro no pressente.

A criança interior - em nós - responde por tudo o que dizemos de nós para nós mesmos: "que bobagem", "imagine!", "a gente pensa cada uma!"

Nossas bobagens são muito importantes para nós e mais vezes sim do que não será necessário vivê-las - ou nos esterilizamos em uma rotina vazia - no tédio do sempre igual.

Ai do adulto que nunca é criança!

A criança ainda não sabe distinguir o que é importante - aos olhos dos adultos. Ela ainda acha que aquilo que acontece uma só vez pode ser mais importante do que acontece muitas vezes.

Morrer, por exemplo.

Ela acha que o imprevisível é tão importante quanto o costumeiro - é até mais atraente (e assustador!). Chega ao cúmulo de considerar existentes as coisas sem lógica e de dar a essas coisas absurdas o mesmo valor dado às coisas sérias e razoáveis (para o adulto).

A criança é muito incômoda. Vive fazendo com que o adulto duvide de todas as suas verdades.

Muito mais fácil dizer "coisas de criança são bobagens".

A criança dá valores iguais ao contingente e ao necessário, leva igualmente a sério o transitório e o eterno, presta a mesma atenção ao universal e ao individual (até mais a este do que àquele).

Já se viu quantos despropósitos? Como é possível dar atenção às crianças?

Criança só pode mesmo dizer tolices e só pode mesmo ser ignorante - porque se ela não fosse, viria abaixo todo o fantástico mundo das certezas dos adultos.

domingo, 9 de dezembro de 2012

O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade [Milton Santos]


Vivemos num mundo confuso e confusamente percebido. Haveria nisto um paradoxo pedindo uma explicação? De um lado, é abusivamente mencionado o extraordinário progresso das ciências e das técnicas, das quais um dos frutos são os novos materiais artificiais que autorizam a precisão e a intencionalidade. De outro lado, há também referência obrigatória à aceleração contemporânea e todas as vertigens que cria, a começar pela própria velocidade. Todos esses, porém, são dados de um mundo físico fabricado pelo homem, cuja utilização, aliás, permite que o mundo se torne esse mundo confuso e confusamente recebido. Explicações mecanicistas são, todavia, insuficientes. É a maneira como, sobre essa base material, se produz a história humana que é a verdadeira responsável pela criação da torre de babel em que vive a nossa era globalizada. Quando tudo permite imaginar que se tornou possível a criação de um mundo veraz, o que é imposto aos espíritos é um mundo de fabulações, que se aproveita do alargamento de todos os contextos (M. Santos, "A natureza do espaço", 1996) para consagrar um discurso único. Seus fundamentos são a informação e o seu império, que encontram alicerce na produção de imagens e do imaginário, e se põem ao serviço do império do dinheiro, fundado este na economização e na monetarização da vida social e da vida pessoal.

Com essa grande mudança na história, tornamo-nos capazes, seja onde for, de ter conhecimento do que é o acontecer do outro. Nunca houve antes essa possibilidade oferecida pela técnica, a nossa geração ter em mãos o conhecimento instantâneo do acontecer do outro. Essa é a grande novidade, o que estamos chamando de unicidade do tempo ou convergência dos momentos. A aceleração da história, que o fim do século XX testemunha, vem em grande parte disto. Mas a informação instantânea e globalizada por enquanto não é generalizada e veraz porque atualmente intermediada pelas grandes empresas de informação.

E quem são os atores do tempo real? Somos todos nós? Esta pergunta é um imperativo para que possamos melhor compreender nossa época. A ideologia de um mundo só e da aldeia global considera o tempo real como um patrimônio coletivo da humanidade, mas ainda estamos longe desse ideal, todavia alcançável.

A história é comandada pelos grandes atores desse tempo real, que são, ao mesmo tempo, os donos da velocidade e os autores do discurso ideológico. Os homens não são igualmente atores desse tempo real. Fisicamente, isto é, potencialmente, ele existe para todos. Mas efetivamente, isto é, socialmente, ele é excludente e assegura exclusividade, ou, pelo menos, privilégios de uso.



Apesar de ter se graduado em Direito, Milton Santos destacou-se por seus trabalhos em diversas áreas da geografia, em especial nos estudos de urbanização do Terceiro Mundo. Foi um dos grandes nomes da renovação da geografia no Brasil ocorrida na década de 1970. Escreveu os livros: O meio técnico-científico e a redefinição da urbanização brasileira, O espaço do cidadão, Técnica, espaço, tempo, Por uma outra globalização, entre outros.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Interessere [Décio Pignatari]



Na vida interessa o que não é vida
Na morte interessa o que não é morte
Na arte interessa o que não é arte
Na ciência interessa o que não é ciência
Na prosa interessa o que não é prosa
Na poesia interessa o que não é poesia
Na pedra interessa o que não é pedra
No corpo interessa o que não é corpo
Na alma interessa o que não é alma
Na história interessa o que não é história
Na natureza interessa o que não é natureza
No sexo interessa o que não é sexo
(: o amor que, de resto, pode ser abominável)
No homem interessa o que não é homem
Na mulher interessa o que não é mulher
No animal interessa o que não é animal
Na arquitetura interessa o que não é arquitetura
Na flor interessa o que não é flor
Em Joyce interessa o que não é Joyce
No concretismo interessa o que não é concretismo
No paradigma interessa o que não é paradigma
No sintagma interessa o que não é sintagma
Em tudo interessa o que não é tudo
No signo interessa o que não é signo
Em nada interessa o que não é nada.


Além de poesia, Pignatari (1927-2012) escreveu romance, peça de teatro e foi tradutor, professor e estudioso de semiótica. Sua obra poética está reunida em “Poesia pois é poesia” (1977), e lançou, em 2009, o livro "Bili com limão verde na mão". Entre as obras de maior relevância do poeta estão "Informação, linguagem, comunicação" (1968), "Contracomunicação" (1972), "Semiótica e literatura" (1974) e "O rosto da memória" (1988). Como tradutor, Pignatari é responsável por obras de nomes como Dante Alighieri, Goethe, Shakespeare e Marshall McLuhan.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O desejo do contemporâneo [Antonio Cicero]


O FILÓSOFO Gilles Deleuze diz que "uma boa maneira de ler, hoje em dia, seria tratar um livro assim como se escuta um disco, assim como se vê um filme ou um programa de televisão, assim como se acolhe uma canção: qualquer tratamento do livro que exija para ele um respeito, uma atenção especial, corresponde a outra época e condena definitivamente o livro".

Por mim, cada qual que leia o que quiser da maneira que lhe aprouver. Contudo, quando leio, por exemplo, as bobagens ou trivialidades que são cotidianamente escritas sobre Nietzsche por alguns dos seus fãs, tenho a impressão de que hoje praticamente todo o mundo já adotou a maneira de ler recomendada pelo autor de "Diferença e Repetição". E então tendo a achar que Heidegger é que estava certo, quando recomendava aos seus alunos que adiassem a leitura de Nietzsche para depois que estudassem Aristóteles durante uns dez ou 15 anos.

Deleuze jamais concordaria com isso, pois considerava repressiva a história da filosofia. Segundo ele, as pessoas não se sentem no direito de pensar antes de terem lido Platão, Descartes, Kant e Heidegger. Talvez. Mas eu diria antes que quem não quer pensar sempre acha uma desculpa para tal. Se, na França, é a história da filosofia, no Brasil é a filosofia contemporânea que tem esse papel. Tradicionalmente o brasileiro, tendendo a considerar-se atrasado em relação ao que se discute no Primeiro Mundo, não se dá o direito a pensar antes de estar a par do "dernier cri" europeu ou norte-americano. Ora, mal se conhece o "dernier cri" e ele já deixou de o ser, de modo que, correndo-se atrás do próximo, deixa-se para pensar por conta própria mais tarde.

Além disso, quem só deseja estar "up to date" acaba por jamais ler os clássicos. A leitura dos contemporâneos toma-lhe todo o tempo. Tal pessoa espera que os autores da moda lhe indiquem quais dos autores do passado ainda devem ser respeitados (por exemplo, Spinoza e Nietzsche) e quais devem ser desprezados (por exemplo, Descartes e Hegel). E, no mais das vezes, como aquilo que os contemporâneos escrevem sobre os autores que recomendam é considerado justamente o suprassumo destes, torna-se supérflua a leitura dos originais.

Pensemos no significado desse desejo de ser contemporâneo. "Contemporâneo" quer dizer "do mesmo tempo" ou "do mesmo tempo que". Quando dizemos, por exemplo, "Mário e Oswald foram contemporâneos", queremos dizer: "Mário e Oswald foram do mesmo tempo"; e quando dizemos "Leonardo foi contemporâneo de Michelangelo", queremos dizer: "Leonardo foi do mesmo tempo que Michelangelo".

Quando, por outro lado, digo que uma coisa ou pessoa é contemporânea, sem explicitar de quê ou de quem, fica sempre implícito que essa coisa ou pessoa é contemporânea de mim, que estou a dizê-lo. Se digo, por exemplo, "Giorgio Agamben é um filósofo contemporâneo", quero dizer que ele é meu contemporâneo: o que poderia ser dito pelas palavras "Giorgio Agamben é um filósofo do mesmo tempo que eu". Ou seja, o que quer que seja contemporâneo, sem mais, é contemporâneo de mim (seja quem eu for). É claro que, como a contemporaneidade consiste em uma relação comutativa, não posso deixar de, reflexivamente, me reconhecer contemporâneo das coisas ou pessoas que me são contemporâneas.

Isso significa que não tem sentido que eu – seja quem eu for – me diga contemporâneo, sem mais. "Eu sou contemporâneo" significa apenas: "Eu sou do mesmo tempo que eu". Assim também, não tem sentido desejar ser contemporâneo, sem mais, pois "desejo ser contemporâneo" significa apenas: "Desejo ser do mesmo tempo que eu". Finalmente, não tem sentido desejar ser contemporâneo de alguma coisa ou pessoa contemporânea, uma vez que eu já sou, evidentemente, contemporâneo de quem me é contemporâneo. 

Assim, o desejo do contemporâneo não passa de sintoma de um agudo provincianismo temporal. Quando se manifesta no campo da filosofia, talvez o melhor antídoto para ele seja exatamente a leitura cuidadosa dos clássicos.

E, de volta a Deleuze, devo dizer que, no lugar de tratar um livro como normalmente se escuta uma canção, acho mais proveitoso, de vez em quando, escutar algumas canções com o respeito e a atenção especial que o bom leitor jamais deixará de dedicar aos bons livros.


Poeta e ensaísta, Antonio Cicero é autor, entre outras coisas, dos livros de ensaios filosóficos O mundo desde o fim e Finalidades sem fim, e dos livros de poemas Guardar, A cidade e os livros e, o mais recente, Porventura.

domingo, 11 de novembro de 2012

O Brasil não é regido pela Bíblia [Alexandre Vidal]



A Constituição determina que o Brasil é um Estado laico e assegura liberdade religiosa para todos os cidadãos. As autoridades devem dar garantias ao culto de qualquer religião, sem, no entanto, agir em nome de nenhuma. Em uma democracia, esses princípios são importantes porque preservam o pluralismo da sociedade e protegem o pleno exercício dos direitos individuais.

Trata-se de uma conquista da civilização ocidental que se encontra ameaçada no Brasil. Hoje, fé e política parecem manter uma relação espúria, na qual princípios religiosos contaminam de forma indevida o processo legislativo nacional. Absurdamente, começa-se a achar natural que projetos de lei submetidos à Câmara dos Deputados, ainda que consonantes com os princípios da Constituição e dirigidos ao todo da população — religiosa ou não —, tenham de passar pelo crivo doutrinário das igrejas e fiquem reféns de sua sanção.

Retira-se, assim, de parcela considerável do povo brasileiro, a possibilidade de regular seus direitos constitucionais fora de preceitos bíblicos que não abraçou. Ao mesmo tempo, as lideranças religiosas assumem ares de superioridade moral e alavancam seus interesses políticos baseados em uma ideologia teocrática de exclusão, que desqualifica quem não partilha de sua fé.

Ninguém é melhor ou mais ético porque tem religião. Cada um tem o direito de escolher os princípios morais que nortearão sua vida de acordo com a sua consciência. Essa prerrogativa fundamenta os direitos individuais. Foi conquistada a duras penas, em reação, justamente, ao monopólio ideológico e religioso que, diversas vezes na história, impôs-se com resultados terríveis para a humanidade.
Ao longo dos séculos, muitas atrocidades foram cometidas em nome da Bíblia e de outros textos religiosos. Não fosse a garantia da pluralidade democrática, o mesmo deputado que vocifera contra cultos de matriz africana ou direitos reprodutivos das mulheres, poderia ter sido queimado na fogueira da Inquisição católica ou morto por apedrejamento como infiel.

O Brasil é um país diverso. E quer continuar a sê-lo. Nele, não deve haver espaço para a intolerância O Congresso não legisla apenas para quem tem religião. Tem de proteger a todos. Tentar impor uma ideologia religiosa por meio da ação legislativa desfigura nossa democracia. Os religiosos têm o direito de observar seus princípios, mas não podem impingi-los ao resto da população. O Brasil não é regido pela Bíblia. Que os religiosos cultuem o que quiserem, mas que respeitem quem não pensa e não quer viver como eles.

É importante que as autoridades do governo tentem colocar em perspectiva a ação política de grupos religiosos no Brasil. O Estado brasileiro é laico e deve comportar-se como tal. Em mais de uma instância, minorias sociais têm visto seus direitos individuais virarem moeda de troca. Tolerar a intolerância pode render votos, mas não é uma forma justa de governar.


Alexandre Vidal é advogado.