segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Independência e Desassombro [Consuelo Pondé de Sena]

Nascimento de Vênus, Di Cavalcanti.

Junto a minha escrita a de dois amigos insuspeitos de cultivar o racismo ou qualquer outro tipo de discriminação, para aplaudir os corajosos textos de Walter Queirós Junior e Luiz Mott, publicados na imprensa no dia 19 próximo passado. Ambos trataram do mesmo assunto, sem que houvessem combinado fazê-lo, para ressaltar o “oportunismo político” implantado na Bahia e no Brasil nos últimos anos.

Sendo ambos os articulistas pessoas responsáveis e destacadas no meio cultural baiano, parece fácil corroborar suas afirmativas, desde quando coerentes com o que penso e julgo estar acontecendo nesta Roma Negra.

Começo por afirmar que somos uma terra ou, mais ainda, um país de mestiços, produto de “três raças tristes”, embora a expressão raça não caiba em nenhuma nomenclatura da nova Antropologia.

Quanto ao culto exacerbado ao continente africano, de onde provem parte do nosso amálgama étnico (prefiro ao racial), tem intencionalmente desprestigiado a nossa formação nativa e a contribuição portuguesa, “nossa herança fundamental”, conforme escreveu o ilustre antropólogo alagoano, notável folclorista, Manuel Diegues Junior, no seu clássico: “Etnias e Culturas no Brasil”, livro que todo brasileiro deveria ler para se informar.

Sabem, ao menos, os conterrâneos portadores de noções básicas sobre o início da colonização portuguesa no Brasil da notável colaboração prestada pelos aborígenes na construção da nossa sociedade, que se formou da miscigenação entre brancos e índios.

Não desconhecem também a participação dos tupinambás na construção da Cidade do Salvador e da sua ajuda fundamental para o ensino de certas práticas, ainda em uso em nossos dias, a exemplo dos artefatos e práticas usuais na pescaria baiana, das plantas medicinais, do fabrico da cerâmica e da cestaria, do uso das palmas, de hábitos alimentares, do uso da rede, dos contos e das crenças impregnadas em nosso imaginário, de determinados instrumentos musicais, enfim, de um incontável número de aportes.

Deve ser posto também em destaque o conhecimento da mata, as trilhas e caminhos dos índios, denominados “peabirus”. Desses roteiros terrestres que intercomunicam inúmeras áreas geográficas do país, sem cujos caminhos seria impraticável vencer a floresta Atlântica, ultrapassar as montanhas, atravessar rios, córregos e regatos, contornar as cachoeiras e quedas d´água deste território imenso. Isto sem falar na transmissão de elementos da sua língua, a mais falada na costa do Brasil, infelizmente, subjugada pelo colonizador, como acontece em qualquer parte do mundo, que sofre esse processo de ocupação.

Sobrevive o tupi altaneiro e copioso, ainda, no léxico do português do Brasil, em determinadas expressões de dúvida e espanto, porque foi impossível desenraizá-lo totalmente, apesar da perseguição de Pombal.

O que está ocorrendo na Bahia, minha gente, é um processo intencional de “africanização” raivosa e injusta, observada até por negros conscientes desse processo, como há pouco tempo se pronunciou um dos mais importantes artistas desta terra, Emannoel Araujo, em depoimento à imprensa.

Grave também, como observou o antropólogo Luiz Mott, é a ideia circulante de que a “mama África é uma cultura homogênea e o melhor lugar do mundo para se viver”. Esse mito está impresso na mente dos mais afoitos, dos que jamais pisaram no solo das diversas Áfricas e muito menos conhecem a sua verdadeira história. Como acentuou Mott, “mesmo antes da colonização europeia e arábica, nunca a África foi réplica do paraíso terrestre, ostentando as mesmas crueldades, injustiças e violências observadas na Europa e na Ásia: machismo, escravidão, mutilações sexuais, fome e cruéis desigualdades”.

Walter Queiroz Jr. enfatiza: “De repente, como num surto de consciência pesada ou talvez por mero oportunismo político, endeusam-se na Bahia os afrodescendentes como uma categoria étnica apartada dos demais baianos”. Ainda mais adiante acrescenta: “Todas as lágrimas do mundo não darão conta de chorar a diáspora negra, assim como a tragédia judaica, sem esquecer o massacre dos povos indígenas”. A tudo isso acrescento a perseguição milenar ao povo cigano que, em nossos dias, continuam perseguidos em toda a Europa e outras partes do mundo.

Por fim, Luiz Mott toca num ponto crucial em nossos dias, um dos piores males que estão sendo estimulados, pelos governos e por aqueles que temem enxergar a verdade dos fatos, porque são covardes, qual seja o racialismo, essa mesma vertente “cobradora” que defende os sistemas de cotas para negros, esquecendo-se dos pobres que “desafortunadamente” têm a pele clara. Essa coisa de “reparação “ está assumindo contornos perigosos. Vencer pelo mérito é justo e indiscutível. O que não adianta é conceder diploma a quem não se encontra apto para ocupar determinadas funções. Formar sem condições de comprovar conhecimento, sem a mínima capacidade de conhecer o uso da língua que falamos, ou a usando estropiadamente, é lançar o indivíduo às feras.

Por isso, defendo a escola pública de excelente nível para que todos que nela encontrem a formação necessária, que os habilitem a disputar, em igualdade de condição, as posições a que todos aspiram. A Bahia é celeiro de admiráveis homens de ciência e de outros saberes, muitos dos quais: brancos, mestiços e negros. Os nossos tupinambás ficaram de fora de tudo, porque banidos do seu território de origem, exterminados impiedosamente, quando não empurrados para regiões inóspitas do interior, onde soçobraram à míngua de recursos para a sua sobrevivência, quando não abatidos pelas armas de fogo dos entradistas e bandeirantes.


Texto publicado na Tribuna da Bahia, em 23/11/2011.

Saiba quem é Consuelo Pondé de Sena.


domingo, 25 de dezembro de 2011

Deus [Luis Fernando Veríssimo]


Um cenário limpo. Fundo azul. Deus fala para a câmera.


"Meus filhos, boa noite. Eu sou Deus Vosso Senhor. Se me permitem a imodéstia, acho que não preciso me apresentar. Meu currículo é conhecido de todos. Criador do céu e da terra, etc. A minha vida é um livro aberto, e se chama Bíblia. Minha assessoria me advertiu que estaria havendo uma certa falta de comunicação entre nós e que existiriam algumas dúvidas sobre o meu trabalho, os meus métodos - enfim, sobre qual é a de Deus, afinal. Por isto, optamos por este formato de uma conversa descontraída, sem trovões, sem relâmpagos, sem efeitos especiais ou anjos com clarins, apenas um papo informal entre Criador e criaturas.


Antes de mais nada, quero esclarecer que, ao contrário do que alguns jornais andaram publicando, escolhi a Globo para falar com vocês do Brasil por uma razão muito simples, que não tem nada a ver com ibope, cachê, favoritismo ou qualquer prevenção com o Ratinho. É que o dr. Roberto foi o único que me contatou diretamente.


E aqui estou eu para responder às suas perguntas. Sei que muitas vezes o que eu faço parece incompreensível. Quantas vezes você não se perguntou por que eu fiz isto ou aquilo, não é verdade? Quantas vezes, quando estragou o ar condicionado no cinema ou o filme saiu de foco, você não olhou para o alto e disse "Ó, Deus!", cobrando uma providência divina? Quantas vezes você se perguntou por que existem os desastres naturais, e a caspa, e aquele nervinho da carne que fica preso entre os dentes, e o Sérgio Naya, e os alarmes de carro que disparam e não aparece ninguém para desligar, e a colher que cai dentro do molho e depois lambuza a mão, e a doença, e a morte, e o IPMF? Por que alguns tiram a sena acumulada e eu não ganho nem rifa? Qual é a de Deus, afinal? Pensam que eu não sei? Eu sei de tudo. Sei o que você pensa a cada minuto. Pelas minhas costas ninguém fala!


Posso responder a todas as suas perguntas. O caso do "El Niño", por exemplo. Como todos sabem, o tempo é o maior problema da minha administração. Requer uma organização imensa, difícil de controlar, e os encarregados nem sempre estão à altura das suas tarefas. Mantenho o São Pedro na chefia do setor porque foi um dos nossos primeiros companheiros, mas há muito ele perdeu seu interesse no trabalho e o resultado é que o clima do mundo está essa confusão. Estamos tentando melhorar, no entanto, e pensando, inclusive, em terceirizar o serviço, e em pouco tempo tudo voltará ao normal. Aproveito a oportunidade para dizer que são infundadas as notícias de que um meteorito se chocará com a Terra em breve e a destruirá. Não temos nenhum plano de acabar com a Terra num futuro próximo, inclusive porque ela tem um grande valor sentimental para nossa família.


Selecionei algumas cartas para responder no ar. A Ivani, de Londrina, Paraná, me pede para arranjar um encontro dela com o Fábio Junior. Ivani, acho que você não pegou bem o espírito do programa. E o Leôncio, de Santo Antônio, no Rio Grande do Sul - velho Antônio - escreve: "Gostaria que o Senhor explicasse para que existem as unhas do pé." Aí está, uma pergunta objetiva e séria. Para que servem as unhas do pé. Deixa ver. As unhas do pé, por que eu criei as unhas do pé... Faz tanto tempo... Mas vejo que o nosso tempo está se esgotando. Mandem as suas cartinhas! Tentarei explicar todos os meus atos numa linguagem acessível, sem tecnicalês, que qualquer leigo pode entender. Se preferir telefonar, o prefixo do céu é 02, porque 01 são os Estados Unidos. Só não atenderei se estiver em reunião. Ou então usem meu e- mail, Poderosíssimo@ceu.com.


Até a próxima, e fiquem comigo."

sábado, 24 de dezembro de 2011

Jesus Cristo nunca existiu [La Sagesse]

Os pesquisadores que se dedicaram ao estudo das origens do cristianismo sabem que, desde o Século II de nossa era, tem sido posta em dúvida a existência de Cristo. Muitos até mesmo entre os cristãos procuram provas históricas e materiais para fundamentar sua crença. Infelizmente, para eles e sua fé, tal fundamento jamais foi conseguido, porquanto, a história cientificamente elaborada denota que a existência de Jesus é real apenas nos escritos e testemunhas daqueles que tiveram interesse religioso e material em prová-la.

Desse modo, a existência, a vida e a obra de Jesus carecem de provas indiscutíveis. Nem mesmo os Evangelhos constituem documento irretorquível. As bibliotecas e museus guardam escritos e documentos de autores que teriam sido contemporâneos de Jesus, os quais não fazem qualquer referência ao mesmo. Por outro lado, a ciência histórica tem-se recusado a dar crédito aos documentos oferecidos pela Igreja, com intenção de provar-lhe a existência física. Ocorre que tais documentos, originariamente, não mencionavam sequer o nome de Jesus; todavia, foram falsificados, rasurados e adulterados visando suprir a ausência de documentação verdadeira.

Por outro lado, muito do que foi escrito para provar a inexistência de Jesus Cristo foi destruído pela Igreja, defensivamente. Assim é que, por falta de documentos verdadeiros e indiscutíveis, a existência de Jesus tem sido posta em dúvida desde os primeiros séculos desta era, apesar de ter a Igreja tentado destruir a tudo e a todos os que tiveram coragem ousaram contestar os seus pontos de vista, os seus dogmas.

Por tudo isso é que o Papa Pio XII, em 955, falando para um Congresso Internacional de História em Roma, disse: “Para os cristãos, o problema da existência de Jesus Cristo concerne à fé, e não à história”.

Emílio Bossi, em seu livro intitulado “Jesus Cristo Nunca Existiu”, compara Jesus Cristo a Sócrates, que igualmente nada deixou escrito. No entanto, faz ver que Sócrates só ensinou o que é natural e racional, ao passo que Jesus ter-se-ia apenas preocupado com o sobrenatural. Sócrates teve como discípulos pessoas naturais, de existência comprovada, cujos escritos, produção cultural e filosófica passaram à história como Platão, Xenófanes, Euclides, Esquino, Fédon. Enquanto isso, Jesus teria por discípulos alguns homens analfabetos como ele próprio tê-lo-ia sido, os quais apenas repetiriam os velhos conceitos e preconceitos talmúdicos.

Sócrates, que viveu 5 séculos antes de Cristo e nada escreveu, jamais teve sua existência posta em dúvida. Jesus Cristo, que teria vivido tanto tempo depois, mesmo nada tendo escrito, poderia apesar disso ter deixado provas de sua existência. Todavia, nada tem sido encontrado que mereça fé. Seus discípulos nada escreveram. Os historiadores não lhe fizeram qualquer alusão.

Além disso, sabemos que, desde o Século II, os judeus ortodoxos e muitos homens cultos começaram a contestar a veracidade de existência de tal ser, sob qualquer aspecto, humano ou divino. Estavam, assim, os homens divididos em duas posições: a dos que, afirmando a realidade de sua existência, divindade e propósitos de salvação, perseguiam e matavam impiedosamente aos partidários da posição contrária, ou seja, àqueles cultos e audaciosos que tiveram a coragem de contestá-los.

O imenso poder do Vaticano tornou a libertação do homem da tutela religiosa difícil e lenta. O liberalismo que surgiu nos últimos séculos contribuiu para que homens cultos e desejosos de esclarecer a verdade tentassem, com bastante êxito, mostrar a mistificação que tem sido a base de todas as religiões, inclusive do cristianismo. Surgiram também alguns escritos elucidativos, que por sorte haviam escapado à caça e à queima em praça pública. Fatos e descobertas desta natureza contribuíram decisivamente para que o mundo de hoje tenha uma concepção científica e prática de tudo que o rodeia, bem como de si próprio, de sua vida, direitos e obrigações.

A sociedade atualmente pode estabelecer os seus padrões de vida e moral, e os seus membros podem observá-los e respeitá-los por si mesmos, pelo respeito ao próximo e não pelo temor que lhes incute a religião. Contudo, é lamentavelmente certo que muitos ainda se conservam subjugados pelo espírito de religiosidade, presos a tabus caducos e inaceitáveis.

Jesus Cristo foi apenas uma entidade ideal, criada para fazer cumprir as escrituras, visando dar sequência ao judaísmo em face da diáspora, destruição do templo e de Jerusalém. Teria sido um arranjo feito em defesa do judaísmo que então morria, surgindo uma nova crença. Ultimamente, têm-se evidenciado as adulterações e falsificações documentárias praticadas pela Igreja, com o intuito de provar a existência real de Cristo. Modernos métodos como, por exemplo, o método comparativo de Hegel, a grafotécnica e muitos outros, denunciaram a má fé dos que implantaram o cristianismo sobre falsas bases com uma doutrina tomada por empréstimos de outros mais vivos e inteligentes do que eles, assim como denunciaram os meios fraudulentos de que se valeram para provar a existência do inexistente.

É de se supor que, após a fuga da Ásia Central, com o tempo os judeus foram abandonando o velho espírito semita, para irem-se adaptando às crenças religiosas dos diversos povos que já viviam na Ásia Menor. Após haverem passado por longo período de cativeiro no Egito, e, posteriormente, por duas vezes na Babilônia, não estranhamos que tenham introduzido no seu judaísmo primitivo as bases das crenças dos povos com os quais conviveram. Sendo um dos povos mais atrasados de então, e na qualidade de cativos, por onde passaram, salvo exceções, sua convivência e ligações seria sempre com a gente inculta, primária e humilde. Assim é que, em vez de aprenderem ciências como astronomia, matemática, sua impressionante legislação, aprenderam as superstições do homem inculto e vulgar.

Quando cativos na Babilônia, os sacerdotes judeus que constituíram a nata, o escol do seu meio social, nas horas vagas, iriam copiando o folclore e tudo o que achassem de mais interessante em matéria de costumes e crenças religiosas, do que resultaria mais tarde compendiarem tudo em um só livro, o qual recebeu o nome de Talmud, o livro do saber, do conhecimento, da aprendizagem. Por uma série de circunstâncias, o judeu foi deixando, aos poucos, a atividade de pastor, agricultor e mesmo de artífice, passando a dedicar-se ao comércio.

A atividade comercial do judeu teve início quando levados cativos para a Babilônia, por Nabucodonosor, e intensificou-se com o decorrer do tempo, e ainda mais com a perseguição que lhe moveria o próprio cristianismo, a partir do século IV. Daí em diante, a preocupação principal do povo judeu foi extinguir de seu meio o analfabetismo, visando com isso o êxito de seus negócios. Deve-se a este fato ter sido o judeu o primeiro povo no meio do qual não haveria nenhum analfabeto. Destarte, chegando a Roma e a Alexandria, encontrariam ali apenas a prática de uma religião de tradição oral, portanto, terreno propício para a introdução de novas superstições religiosas. Dessa conjuntura é que nasceu o cristianismo, o máximo de mistificação religiosa de que se mostrou capaz a mente humana.

O judeu da diáspora conseguiu o seu objetivo. Com sua grande habilidade, em pouco tempo o cristianismo caiu no gosto popular, penetrando na casa do escravo e de seu senhor, invadindo inclusive os palácios imperiais. Crestus, o Messias dos essênios, pelo qual parece terem optado os judeus para a criação do cristianismo, daria origem ao nome de Cristo, cristão e cristianismo. Os essênios haviam-se estabelecido numa instituição comunal, em que os bens pessoais eram repartidos igualmente para todos e as necessidades de cada um tornavam-se responsabilidade de todos.

Tal ideal de vida conquistaria, como realmente aconteceu, ao escravo, a plebe, enfim, a gente humilde. Daí, a expansão do cristianismo que, nada tendo de concreto, positivo e provável, assumiu as proporções de que todos temos conhecimento. Não tendo ficado restrita à classe inculta e pobre, como seria de se pensar, começou a ganhar adeptos entre os aristocratas e bem-nascidos.

De tudo o que dissemos, depreende-se que o cristianismo foi uma religião criada pelos judeus, antes de tudo como meio de sobrevivência e enriquecimento. Tudo foi feito e organizado de modo a que o homem se tornasse um instrumento dócil e fácil de manejar, pelas mãos hábeis daqueles aos quais aproveita a religião como fonte de rendimentos.

Métodos modernos como, por exemplo, o método comparativo de Hegel, a grafotécnica, o uso dos isótopos radioativos e radiocarbônicos, denunciaram a má fé daqueles que implantaram o cristianismo, falsificando escritos e documentos na vã tentativa de provar o que lhe era proveitoso. Por meios escusos tais como os citados, a Igreja tornou-se a potência financeira em que hoje se constitui. Finalmente, desde o momento em que surgiu a religião, com ela veio o sacerdote que é uma constante em todos os cultos, ainda que recebam nomes diversos. A figura do sacerdote encarregado do culto divino tem tido sempre a preocupação primordial de atemorizar o espírito dos povos, apresentando-lhes um Deus onipotente, onipresente e, sobretudo, vingativo, que a uns premia com o paraíso e a outros castiga com o inferno de fogo eterno, conforme sejam boas ou más suas ações.

No cristianismo, encontraremos sempre o sacerdote afirmando ter o homem uma alma imortal, a qual responderá após a morte do corpo, diante de Deus, pelas ações praticadas em vida. Como se tudo não bastasse, o paraíso, o purgatório dos católicos e o inferno, há ainda que considerar a admissão do pecado original, segundo o qual todos os homens ao nascer, trazem-no consigo.

Ora, ninguém jamais foi consultado a respeito de seu desejo ou não de nascer. Assim sendo, como atribuir culpa de qualquer natureza a quem não teve a oportunidade de manifestar vontade própria. Quanta injustiça! Condenar inocentes por antecipação. O próprio Deus e o próprio Cristo revoltar-se-iam por certo ante tão injusta legislação, se os próprios existissem.